27 agosto 2007

ESTÓRIAS
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Pois claro que etc...
Não se sabe porque não
cozi o arroz mais cedo a
patroa foi-me aos fagotes.
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O príncipe mais novo veio cá a casa e gostou
muito de ver as galinhas
e os gatos que não o arranharam por um
triz.
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Comeu broa e sardinhas e à noite
queria mais. Disseram-lhe: Está
quieto é coelho que é mais levezinho
com batatas.
Não quis a sopa, amuado comeu metade
do coelho, mexeu-se muito
na cadeira e saiu rápido para ir
lavar os dentes.
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Rapidamente saiu irondélico
numa golfada lustrosa e fresca
esparramado de sol na trombita e tropeçou
esfolado o joelho e choritos muitos miminhos
se seguiram ternuras emprestadas efectivas
todavia.
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Depois ao fazer a cama apareceu-me o drástico caso
que relatei à patroa pressuroso
Então o melro...! Disse ela e mandou-me
falar com o dito.
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Foi um problema e peras
que se comeram custaram-me
os olhos da cara. Fiquei a saber que ele me dava
razão pelo meu apoio e solidariedade.
E assim adormecemos um para cada lado
a sonhar com manteiga um
e domésticos dois outro.

20 agosto 2007

AQUI
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Pouco a pouco perscruto a razão
.......................................... a nave
bendita vaporosa visão me desvia
do que não sei procurar.
Extraindo do peito dorido e quieto
.......................................... a prata
inunda o medo animal que me tolhe.
A besta morre ou adormece sob som de sinos
de flautas tocadas pelos dedos vivos.
A beleza das trevas, a doçura do vácuo
.......................................... a raiz
perde-se amiúde outros astros me requestam
os trilhos cintilantes tão distantes
que se tocam com os dedos.

17 agosto 2007

A QUEM DOA

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Fugiste, furaste: a
felina aflição
um assobio arrancado aos primórdios?
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Pulaste na terra
sem povo sem poiso
uma poalha de distância nos olhos
perpetuada
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E alguém ouviu
Eco de queda tua, por putrefacto
alguém te farejou?
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Não sei se em tempos
um sonho viste
em que partias
e não dizias adeus
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Quem sabe agora
qual foi o vento
que acaso enleou
as tuas escotilhas mais antigas
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Virar uma página
Uma estação
dos caminhos em ferro
Uma ponta de orgulho
a enfeitar a patetice
um drible no escuro
Um soro outonal
Uma orla de bosque
e um buraco no escuro
Uma seiva entranhada
gritos secos no ar
e um luar ou uma chama
que sofreste para alcançar
até apreenderes...
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Nada
vai significar
o que cada um sabia
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É a morte
do jogo
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Um dia ao sol-pôr
De joelhos no chão
Ofereces a luz
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Sem pedir perdão pelo abuso

10 agosto 2007

ESPELHO DE ÁGUA

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O branco...
O vazio...
A canção mil vezes repetida.
Que esperavas então ser ignóbil que só sabes espreitar das sombras, julgando que vai agarrar o sol como se jogasses à apanhada?
Onde estás verde?
Por onde andas sol, por onde odores faróis de outros tempos, por onde alegria, peito transbordante de viver?
Vivo só disto?
Mórbido exorcismo. Pudesse eu guardar a memória onde conseguisse jamais a desfiar...
Quero-te doce, fruto do futuro, e na árvore inóspita, acessível apenas pelo sonho que enche as mãos e pela seiva, mais recôndita, da palavra.
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Volta com o urso
Fala com o cão
Acerca-te do gato
Perscrutando o tigre
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Diz-me paixão: Foste invulnerável às tuas cinzas?
Cor de prisão, olha a cor da mudança de estações.
Diluída na água esta tristeza dura mais tempo.
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Puro... fica-se?

09 agosto 2007

TRIBUTO
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Ao chão tão antigo
que o Homem ergueu
em promessas de serra
e franjas de rio
nos campos de pão
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À terra meu lar
que o sol abençoa
e às vinhas perdoa
ser vizinhas do mar
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Ao baú de lembranças
de noites de luar
e de canções alegres
ou serenatas de amor
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Dum tempo perdido
tão perto daqui
de sonhos bonitos
ao alcance das mãos)
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À aldeia dos carros
de bois a passar
e o cheiro nostálgico
que anda pelo ar
do pão e dos bolos
em noites sem par
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À vila resgatada
que quero descobrir
em vozes de outrora
que estão no porvir
e em actos de agora
que possam servir
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Dedico o que tenho
de melhor para dar
Minha fé no futuro
E a vontade de amar.

08 agosto 2007

FESTA DO VERÃO
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Faça-se a vida a tal cantiga
Que em Maio cantava o poeta
O hausto voluptuoso do Verão, a benção
a maturação ágil da vida
no corpo, na alma, nas veias.
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Agite-se em nós o drama ardente
de saber ser dor o amar sem limites
arrecade-se o fragor dos sussurros, o odor
dos corpos, o delírio e o ninho o nicho comum.
Expurgue-se o sarro, o sal toldado, a falsa saudade,
o desespero, a doença, o inimigo comum.
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Alta vai a onda da vida
Frágil o barco em que nos aventuramos
Os rumos dos mares sem fim
Passam por tudo o que é mundo.
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Avance pois, quem quer bailar
O mundo é caminho, é desafio
À vaga alta, ao esforço imenso
Sucede o refrigério do momento certo da partilha
do olhar humilde o sol
que a todos ofusca a
todos abençoa.